Um prisioneiro habita uma cela que ele mesmo construiu. Suas atitudes prévias de roubar ou matar, hábitos que provavelmente recebeu de outra pessoa, são como tijolos que se agrupam até que uma nova realidade se crie. Antes de escrever este texto, o post anterior pedia justamente isso: que as pessoas se pronunciassem antes do conteúdo final, que mudassem o seu hábito. O meu amigo Jaime foi o único, dentre as centenas de acessos, que o fez. Talvez pela amizade, talvez porque se sente a vontade no meu habitat digital. Sim, a relação de dependência entre hábito e habitat vai além da semântica. O hábito gera o habitat e o habitat mantém o hábito. Como seres humanos temos alguns hábitos. Prazer em nos alimentar, prazer em fazer sexo, prazer em ser reconhecido como alguém importante, prazer em fazer compras e etc; são hábitos convencionais. Mas há outros hábitos que nos revelam menos prazeirosos. Somos habituados a julgar, a punir, a acusar, a mandar, a negar e outras formas ignorantes de trabalhar a nossa mente. Estes hábitos são verdadeiras pedras ilusórias no caminho da felicidade. Agimos assim porque a história humana criou o hábito, e consequentemente o habitat, de sobrepujar seu semelhante e todos os seres que habitam o mesmo planeta. Pior do que a experiência de um fumante ou um alcoólatra, que sabe o quanto suas atitudes serão prejudiciais no futuro, toda a humanidade é viciada em manter o hábito das não virtudes que limitam a mudança para um estado de plenitude maior. Quem pensa que este habitat é o único possível, certamente não se deu conta de quantos estados sua mente já vivenciou. Da compleição em êxtase do bebê que mama no seio da mãe ao ódio de ser privado de qualquer prazer mundano, quem nunca experimentou as ambivalências? Nem um, nem outro transformam. Ambos são hábitos que geram habitats. E como somos levados como náufragos em um mar revolto, nosso tempo na terra se torna a cada dia mais escasso e mais fútil. O homem vive em busca de novos mundos pelo espaço sideral. Mas bastaria apenas invadir o espaço mental. Nele se encontra os hábitos que precisamos quebrar para descobrir um novo habitat. Olho para fora e vejo uma lagartixa mantendo seus hábitos alimentares com vários bichinhos seduzidos pelo poder da luz. Ela está de barriga cheia, satisfeita. Mas não tem a menor noção de que vive no meu habitat. E você, onde vive de fato?
©Texto a ser publicado na próxima edição do jornal O Local. Que todos os seres possam se beneficiar.