Across the Universe

Se a terra fosse uma passagem, de onde teríamos vindo? E para onde estaremos partindo? Foi assim, com estas perguntas crédulas, que liguei a TV para assistir ao musical “Across The Universe”, da boa diretora Julie Taymor (reconhecida por “Frida”, EUA 2002). Mas o ticket de viagem me levou para outra praia; 1960, Beatles, guerra do Vietnã, movimento hippie, amor, romance e psicodelia típicos dos anos-pós-dourados (no Brasil, a década de 50). A surpresa agradou. Ouvir novas versões dos sempre-clássicos de Liverpool inseridos de forma irretocável no argumento, compondo um novo sentido para cada uma das músicas, é no mínimo genial. Destaque para “Strawberry Fields Forever”, que conecta o encarnado sexy dos morangos ao sangue jorrado no oriente, e para “Revolution” (logo na sequência) simbolizando, ao mesmo tempo, o movimento estudantil a favor da paz “em harmonia” com o ódio que brota do ciúme juvenil. De fato, o filme todo é uma verdadeira cruzada entre dois mundos; o amor entre Lucy e Jude (ela uma americana recém engajada nas causas sociais, e ele um artista britânico que virou estivador por falta de opção – os nomes estão intimamente ligados às famosas canções) e a confusão de uma época cheia de enredos históricos, onde a mistura entre arte e ignorância formaram muito do que somos hoje. A idéia de universo, aqui, não ultrapassa estes limites. É nú e cru, até nas cenas que sugerem o LSD como inspiração, como o circo montado por “Being For The Benefit of Mr. Kite”. Mas acaba por realizar a idéia de estar atravessando um mar de clareza intelectual através das letras excepcionais do quarteto. Inesquecíveis e atuais, é fácil abstrair os motivos que levaram a banda ao estrelato, numa década em que a globalização era só um tubo de ensaio midiático. Com nova forma, então, as músicas ganham fôlego para virar necessidade na sua discoteca, mesmo que já seja um fã incondicional das versões originais. Basta saber que Bono Vox e Joe Cocker emprestam a voz para “I am the Walrus” e “Come Together” respectivamente, sem contar a brilhante interpretação de todo o elenco. Não é por menos, segundo li, Julie Taymor é assídua no universo musical da Broadway, tendo feito a última versão do “Rei Leão” em 2006. Cheio de referências sobre a história dos Beatles, o roteiro é um convite a detalhes que podem passar despercebidos, como a maçã que é cortada pelo ator principal fazendo referência ao selo Apple, fundado pelos caras em 1968. No final das contas, acabei por não cruzar o universo em si, nem no filme, nem no texto escrito para você, caro leitor. Mas tudo bem, afinal, tudo que precisamos se resume ao amor, como bem conclui o roteiro com “All You Need Is Love”.

©Para ser publicado na próxima edição do jornal “O Local”. Ao atravessar o universo, quem sabe possamos deixar uma estrela que brilhe para benefício de todos os seres.

A Evolução do Intelecto

A primeira vez que li o título do livro do meu amigo Marcos Vinícius Ferraz, “Indivi Duo”, ainda no início da década de 90, sabia que a dúvida me acompanharia por muitos anos. Por se tratar de uma obra poética, não havia o compromisso de responder ao paradoxo. Porém, a meu ver, a divisão da palavra era (e é) brilhantemente sedutora para um aprofundamento filosófico. Das teorias evolutivas à visão espiritual, muito esforço interno foi preciso para encontrar uma explicação apaziguante. E o próprio tempo evolutivo foi crucial para elucidar a questão. Afinal, não se trata aqui de um enigma intelectual. De fato, é o intelecto o maior desafio a se quebrar quando se procura pela resposta a dualidade. Se a palavra dividida questiona a sua bipolaridade como EU e DEUS, a própria divisão é o erro. E ver isso muda a palavra para “indivisível”. O princípio é simples, mas há uma tremenda coragem no processo. Para encontrar a resposta é preciso abandonar a idéia do EU como algo que existe. Você deve estar se perguntando: como assim, eu não existo? Este cara está ficando louco? Não é bem isso. A noção de EU é ilusória. Nós não somos, nós estamos existindo durante algum tempo que tem data de validade. Mas há algo que “existe” como verdade e isso é a base de tudo. No budismo é a vacuidade (para se aprofundar aconselho procurar um Lama realizado). Já os físicos modernos dão o nome de consciência quântica. Mas é uma só realidade. E acredito que estamos em uma época onde muitos seres a estão descobrindo. Uma espécie de evolução da própria consciência que se auto-ajusta num novo padrão de percepção. Talvez seja por isso que você está lendo este texto. Para finalizar, acho interessante contar um acontecimento que você pode comprovar no post anterior. Enquanto elaborava internamente o conteúdo deste, recebi uma mensagem sobre um espiritualisma ocidental moderno: Eckhart Tolle. Gostei muito da sincronicidade e, dentre muitos artigos, encontrei um trecho de uma entrevista sobre o surgimento de uma nova espécie de seres humanos, que conclui este pensamento com maestria. Segue, com desejo de beneficiar todos os seres: “A nova espécie não necessita de inimigos, drama ou conflito para dar-lhe um sentido de identidade e assim, torna-se livre, em grande escala, do conflito e do sofrimento causado pelo homem, que é uma característica da velha consciência. Buda teve uma bela perspectiva disso, quando disse, para descrever o estado de consciência da liberação, que ela é livre do sofrimento – você não sofre mais. Pode ainda haver dor, porque enquanto houver corpo físico haverá dor, você pode ter uma dor de dente. Mas o sofrimento psicológico é causado pela entidade do eu na cabeça. Você não mais causará sofrimento para si próprio através das estruturas do pensamento. E quando você não mais causa sofrimento para si, não mais causa sofrimento para outros. A interação entre seres humanos não será mais coberta pelo medo, como é agora – o medo e o desejo, dois movimentos de estado inconsciente. A interação humana será caracterizada pelo amor e compaixão. E o amor não será do tipo “preciso de você, não ouse abandonar-me, porque eu não sei o que vou fazer se você me deixar”, o amor da chamada velha consciência. Amor é simplesmente reconhecer o outro como sendo você próprio, o reconhecimento da unidade é amor. E todas as interações, quando se reconhece o outro como você próprio, não mais acontecem através da formação de uma imagem, uma identidade da forma, de quem aquela pessoa é. E porque você vai além da identificação da forma em si própria, não mais constrói pequenas armadilhas e pequenos conceitos de outras pessoas… então o amor reina. Não se pode conceber o que seria o mundo se uma grande parte da humanidade vivesse nesse novo estado de consciência. Eu não faço, geralmente, considerações sobre esse fato. Minha suposição sobre isso é de que não seria possível reconhecer a estrutura da natureza humana. Seria muito diferente. Potencialmente este planeta poderia ser o paraíso – é um paraíso, mas as pessoas se esforçam muito para torná-lo um inferno, contudo ainda é um belo paraíso. Não estou dizendo que no nível da forma não haverá limitação, sim, as formas ainda vêm e vão. Mas ainda assim a harmonia é possível, viver em harmonia com a natureza. Viver em um estado de amor, amando a essência de cada forma, pois a vida se manifesta através de milhões de formas de vida. Amando uma vida da qual milhões de formas são manifestações temporárias, amando-as como a si próprio, sendo elas – esse é o novo estado de consciência.”

Você se identificou com o texto? Então, leia a entrevista completa com Eckhart Tolle. Aproveito também para deixar um abraço ao meu amigo Marcos Ferraz. E um agradecimento especial a Clarisa Lima, que me apresentou virtualmente o Eckhart.