Avatares, chegou a hora!

Em 2003, Pierre Weil escreveu “Mutantes. Uma nova humanidade para um novo milênio”. Não é obra tão conhecida como “O Corpo Fala”, produzida em co-autoria com Roland Tompakow em 1980. Mas, talvez, seja muito mais importante hoje; quando os cinemas de todo o mundo são invadidos por multidões para assistir “Avatar”, do cineasta James Cameron. No livro, Weil contextualiza o Mutante com um Pontifex, antigamente, nome dado “aos construtores de pontes, em virtude dos rituais religiosos que acompanhavam essa construção”, que transformou-se em título de liderança espiritual, como Jesus Cristo, e posteriormente foi aplicado ao sumo pontífice, o Papa. Para Weil, o mutante que chega no novo século é ávido de conhecer a realidade última, sem vacilar em comparações impróprias entre textos sagrados. Sua liberdade permitirá a procura de explicações e confirmações que provem a existência de uma dimensão divina no universo. E funcionará como uma espécie de sinapse para que outros humanos possam reconhecer essa verdade. Neste sentido, ele se tornará um explorador das fronteiras psicológicas e corporais, construindo pontes sobre todas as fronteiras artificiais criadas por sua própria mente. E “a descoberta do caráter ilusório da fronteira da pele o levará a estender a última ponte: da dualidade exterior-interior”. Não pude deixar de reler o livro, logo após assistir ao filme de Cameron. Apesar de muitos críticos de cinema considerarem o roteiro uma historinha ingênua, arrastada e ecochata, aos meus olhos vi uma grande obra, capaz de tocar todos os índigos que chegam a terra desde o século passado. Sim, não é a toa que os Na’vi são azuis, possuem uma sensibilidade extra-sensorial, valorizam a natureza e os animais e são dotados de uma conexão com a energia universal. Muito menos cândido é também a sua revolta àqueles que depreciam sua sabedoria por ignorância e autoritarismo. O penúltimo capítulo do livro do fundador da UNIPAZ – rede internacional que promove a Cultura de Paz – é claro ao abordar o papel do mutante numa estratégia global de salvação da vida no planeta. O estado de consciência, a visão do universo, a perspectiva antropológica, os valores e as atitudes, os hábitos e comportamentos diários e a importância da transformação do estagnante (seres que vivem em estagnação mental) em mutante, são tópicos a se descobrir. Ora, e o que assistimos na história em Pandora (na mitologia, uma espécie de Eva; a primeira mulher criada por Zeus)? Um estagnante se transmuta em um ser azulado, dotado de capacidades além da percepção humanóide – leia-se humano robotizado. A beleza do argumento deve ser ampliada ao próprio James, afinal, sua história registra filmes como Aliens, O Segredo do Abismo e Exterminador do Futuro; que como o próprio título alerta, é a antítese da visão preservada em Avatar. Se o filme virar um épico é porque já há mutantes suficientes para empreender a grande transformação que a terra precisa para sobreviver. Feliz 2010.

©A palavra avatar tem origem do sânscrito (Avatara), que significa descida (de um ser divino à terra). Mas o processo de mutação pode ser inverso. Você pode buscar diversas formas de reconhecimento da sabedoria humana para alcançar o que é sublime. Com esta descoberta, naturalmente encontrará a valorização da natureza e poderá beneficiar todos os seres que estão ao seu redor. Acredite, vale a pena investir tempo e esforço nesta caminhada!

Casar Ditos

Hoje escrevo o que sinto. Não minto. Gosto de vinho tinto. Sei que o universo é finito. Abissal, absinto. Vejo as críticas como instinto. O prazer como recinto. A dor como extinto. E o amor, esse sim, infinito. Hoje, agora, me permito; gozar a vida, praticar o rito. Abandonar o medo, maldito. Enfrentar a dúvida, não finto. Servir aos seres, benditos. E uma transformação, pressinto. Estão nascendo os obeliscos, que logo vão unir todos os distintos.

©Assista “O Casamento de Rachel”, do excelente diretor Jonathan Demme, com uma brilhante atuação de Anne Hathaway. Uma mistura de graça, raça, laços e esperanças. Mas, principalmente, um ensinamento sobre carma, impermanência, compaixão e vacuidade. Se você não conhece nada sobre isso, e quer saber, acesse o site do Odsal Ling. Que todos os seres possam se beneficiar.

D: Está Escrito

Millionare

Não gosto de escrever sobre o que está sendo escrito na atualidade. Mesmo com a decisão do STF de autorizar qualquer pessoa sem diploma a se tornar um jornalista, não sou do tipo que faz cobertura de novidades. No fundo, acho a idéia de paparazzi e furo de reportagem uma grande besteira, afinal, tudo já está escrito. Foi por este motivo que só vim a assistir Slumdog Millionare (Quem quer ser um milionário?) esta semana. E se estava escrito na minha vida poder curtir esse grande roteiro que mistura fantasia com tragédia com maestria, certamente estava escrito na história dos realizadores do filme a conquista do Oscar e, consequentemente, o seu impacto global. Entretanto, no cerne da questão filosófica apresentada, há muito mais que a idéia do destino determinado pela sorte de uma força sobrenatural. Sim, porque se você terminou o filme pensando que a resposta certa é que nada mais pode ser feito, afinal tudo já está escrito, você está deveras enganado. Na verdade, o que estava escrito no final da sessão, foi escrito pelo próprio personagem principal durante todo o filme. Jamel se torna um milionário e recupera seu amor porque durante todo tempo ele busca ajudar aqueles que o rodeiam. Seu irmão, sempre perdoado; sua namorada, idem; o garoto cego, dando-lhe uma nota de 100 dólares; até o famigerado apresentador do programa, todos são vistos sem raiva, nem vingança pelos olhos do “pobre” e franco Jamel. A vida também é assim. Tudo já está escrito, sim, mas foi escrito pelas atitudes prévias que tomamos no passado. E o mais importante é entender que ainda temos muito a escrever! Pois se tivermos certeza das nossas ações, da nossa fala e dos nossos pensamentos com o intuito de gerar situações benéficas aos outros, certamente vamos ser beneficiados também. Simpless assim. Por isso, agarre essa rica e rara oportunidade e escreva a história que você deseja que esteja escrita no seu futuro. Quando lá chegar, também vai ser fácil saber todas as respostas.

©Que todos os seres possam se beneficiar.

Obs.: ah, sobre o Michael?… escrevo quando o assunto estiver fora dos holofotes.

Luz no Crepúsculo

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O fim de tarde anuncia o crepúsculo. Após um expediente anestesiante, miro para fora da janela e percebo mais um dia que se foi, sem muito sentido. Ok, realizei alguns projetos, tive algumas idéias interessantes, mas a verdade é que no instante em que vejo o pôr do sol no horizonte – quando isso é possível nessa selva de pedra – sinto o coração um tanto mais pesado. Não é incomum brotar um estado mental típico das desilusões. Vejo-me como um morto-vivo, zumbizanzando pelo destino aparentemente simpless de acordar, especular, idealizar, projetar e retornar ao princípio. Que coisa mais estúpida! Buscamos construções que são meras casas de areia e não nos damos conta que ela desmorona, sempre. Lembro-me, então, do curioso sucesso mundial da obra “Twilight”, que até já virou filme. A história é basicamente uma literatura adolescente, mas podemos observar traços sugestivos de lucidez. Por trás da inspiração horripilante de uma garota que se apaixona por um vampiro, foi saboroso enxergar algum tipo de sabedoria na trama. Seus “zombies”, pelo menos os personagens principais, não são seres desmiolados ou psicopatas em busca do desejo a qualquer custo. Cientes de que estão presos no tempo e no espaço pela eternidade, desenvolveram uma qualidade emocional nunca antes vista, ou lida, em romances scary. Servem aos humanos protegendo sua vida e seus valores, num modelo de compaixão que todos deveríamos seguir em nossas vidas. Bem diferente do famoso lorde Drácula, símbolo animalesco que serve aos instintos obscuros, estes têm a capacidade de resistir ao impulso da tentação, do prazer, do orgulho e da luxúria que, de certa forma, são exatamente as veias pútridas da sociedade humana. Se a relação com a estirpe dos homens for proposital, podemos ir além. Notamos que eles são podres de ricos e não se misturam com a plebe. Enfim, não sei como a narração irá se desenrolar. Creio que não haverá grandes surpresas, afinal, os estúdios de Hollywood são os estúdios de Hollywood. Porém, nas minhas sinceras intenções, adoraria ver pela prima vez um vampiro escapar da fatalidade de viver eternamente encarcerado, podendo usufrir mais uma vez do amor humano. Se a Steph estivesse sintonizada com o despertar da nova consciência, certamente ela o faria. E você, se também olhar o crespúsculo com olhos de ver, também o fará.

©Encarar seres horripilantes com compaixão pode fazer brotar felicidade no seu coração. Que todos os seres possam se beneficiar.

Across the Universe

Se a terra fosse uma passagem, de onde teríamos vindo? E para onde estaremos partindo? Foi assim, com estas perguntas crédulas, que liguei a TV para assistir ao musical “Across The Universe”, da boa diretora Julie Taymor (reconhecida por “Frida”, EUA 2002). Mas o ticket de viagem me levou para outra praia; 1960, Beatles, guerra do Vietnã, movimento hippie, amor, romance e psicodelia típicos dos anos-pós-dourados (no Brasil, a década de 50). A surpresa agradou. Ouvir novas versões dos sempre-clássicos de Liverpool inseridos de forma irretocável no argumento, compondo um novo sentido para cada uma das músicas, é no mínimo genial. Destaque para “Strawberry Fields Forever”, que conecta o encarnado sexy dos morangos ao sangue jorrado no oriente, e para “Revolution” (logo na sequência) simbolizando, ao mesmo tempo, o movimento estudantil a favor da paz “em harmonia” com o ódio que brota do ciúme juvenil. De fato, o filme todo é uma verdadeira cruzada entre dois mundos; o amor entre Lucy e Jude (ela uma americana recém engajada nas causas sociais, e ele um artista britânico que virou estivador por falta de opção – os nomes estão intimamente ligados às famosas canções) e a confusão de uma época cheia de enredos históricos, onde a mistura entre arte e ignorância formaram muito do que somos hoje. A idéia de universo, aqui, não ultrapassa estes limites. É nú e cru, até nas cenas que sugerem o LSD como inspiração, como o circo montado por “Being For The Benefit of Mr. Kite”. Mas acaba por realizar a idéia de estar atravessando um mar de clareza intelectual através das letras excepcionais do quarteto. Inesquecíveis e atuais, é fácil abstrair os motivos que levaram a banda ao estrelato, numa década em que a globalização era só um tubo de ensaio midiático. Com nova forma, então, as músicas ganham fôlego para virar necessidade na sua discoteca, mesmo que já seja um fã incondicional das versões originais. Basta saber que Bono Vox e Joe Cocker emprestam a voz para “I am the Walrus” e “Come Together” respectivamente, sem contar a brilhante interpretação de todo o elenco. Não é por menos, segundo li, Julie Taymor é assídua no universo musical da Broadway, tendo feito a última versão do “Rei Leão” em 2006. Cheio de referências sobre a história dos Beatles, o roteiro é um convite a detalhes que podem passar despercebidos, como a maçã que é cortada pelo ator principal fazendo referência ao selo Apple, fundado pelos caras em 1968. No final das contas, acabei por não cruzar o universo em si, nem no filme, nem no texto escrito para você, caro leitor. Mas tudo bem, afinal, tudo que precisamos se resume ao amor, como bem conclui o roteiro com “All You Need Is Love”.

©Para ser publicado na próxima edição do jornal “O Local”. Ao atravessar o universo, quem sabe possamos deixar uma estrela que brilhe para benefício de todos os seres.

Fantasia ou Arquétipo?

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Findo o Carnaval e as véspera da quarta-feira de cinzas revejo “The Dark Knight”, o último thriller do Homem-Morcego. Lembro bem do período da infância; ele era muito mais do que o herói corpulento que capturava loucos e incrédulos, mesmo que faltassem palavras para descrevê-lo. E era na fantasia de papel e pano que compunha o ideal de levar luz às trevas, mesmo que faltassem pensamentos para construí-lo. É interessante o poder do seu simbolismo. Da fraqueza surge a força. Da insanidade, a retidão. Do profano, a pureza. Sombrio, taciturno e legitimamente fora da lei, o semblante óbvio de Batman seria a depressão sobrepujada pelo orgulho, que ferido pelo tempo, deveria formar um ser maligno. Mas não, sua natureza busca a sabedoria no meio de uma multidão de vilões perdidos no ciclo da existência. E, apesar do desejo de vingança, sua certeza de servir ao bem é viceral. Neste sentido, o final do “Cavaleiro das Trevas” é maestro e vale a pena conferir em vídeo-texto (em inglês, sorry) para ressaltar o sentido. Enfim, fica apergunta: fantasia ou arquétipo? Entretanto, isso já não importa. No mundo digital, se tivesse um avatar, seria inspirado nele.

©Que todos os seres possam se inspirar e se beneficiar.