Quando há sentido?

Vivemos uma vida sem orientação. Nascemos de uma forma confusa. Passamos a infância de uma maneira estúpida. Crescemos na juventude com uma atitude ingrata. Vibramos na vida adulta por um desejo incerto. Adoecemos na esperança de uma sorte inóspita. Envelhecemos na angústia de uma experiência concreta. E morremos na ilusão de uma história cumprida. Em cada fase do viver, deixamos de lado o que poderia nos tornar senhores do destino. Esquecemos, diariamente, de procurar o que eliminaria por completo a confusão, a estupidez, a incerteza, o medo, a desconfiança e a embriaguez. Em algum momento, obviamente; o sentido, a percepção, a clareza, a confiança e o foco se perdeu como uma chama que, soprada pelo vento, deixou no breu todos os navegantes em meio a alto mar. Para retomar o rumo é preciso acender pelo menos uma pequena fagulha que permita alguém encontrar um bastão, amarrar uma estopa, mergulhar num combustível e recuperar a luz e o calor de outrora. Pois, só há sentido quando somos capazes de ver tanto os mapas, quanto a maré, os marinheiros, a bússola, o leme e, mais a frente, o horizonte. Lembrando também, que uma vida é como um dia, resta-nos descobrir em qual fase nos damos conta de que a iluminação se esvaiu. Porque dependendo do tempo a viagem pode se tornar longa ou curta demais.

©Possam todos os seres se beneficiar.

Fantasia ou Arquétipo?

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Findo o Carnaval e as véspera da quarta-feira de cinzas revejo “The Dark Knight”, o último thriller do Homem-Morcego. Lembro bem do período da infância; ele era muito mais do que o herói corpulento que capturava loucos e incrédulos, mesmo que faltassem palavras para descrevê-lo. E era na fantasia de papel e pano que compunha o ideal de levar luz às trevas, mesmo que faltassem pensamentos para construí-lo. É interessante o poder do seu simbolismo. Da fraqueza surge a força. Da insanidade, a retidão. Do profano, a pureza. Sombrio, taciturno e legitimamente fora da lei, o semblante óbvio de Batman seria a depressão sobrepujada pelo orgulho, que ferido pelo tempo, deveria formar um ser maligno. Mas não, sua natureza busca a sabedoria no meio de uma multidão de vilões perdidos no ciclo da existência. E, apesar do desejo de vingança, sua certeza de servir ao bem é viceral. Neste sentido, o final do “Cavaleiro das Trevas” é maestro e vale a pena conferir em vídeo-texto (em inglês, sorry) para ressaltar o sentido. Enfim, fica apergunta: fantasia ou arquétipo? Entretanto, isso já não importa. No mundo digital, se tivesse um avatar, seria inspirado nele.

©Que todos os seres possam se inspirar e se beneficiar.

O espaço entre a guerra e a paz

Acordei cedo, como era de costume na viagem de férias que fazia nos EUA. Abri a porta do quarto do hotel e peguei o jornal USA Today, como já me habituava fazer naqueles dias. Na capa, uma surpresa esperada. A foto do Presidente Bush ao lado do Dalai Lama anunciava a entrega da medalha de honra do congresso americano ao líder Tibetano. Dentro do jornal, muita informação a respeito deste grande evento. A nação mais militar do planeta oferecia um reconhecimento ao maior defensor da paz mundial. Em pauta, além da condecoração, um pedido para que a China pudesse abrir diálogo com os monges budistas tibetanos e sua principal liderança, S. S. o Dalai Lama. A atitude é louvável, o momento discutível. Afinal, a invasão comunista chinesa data de 1951 e o líder do Tibet vive no exílio desde 1959, na Índia. Mas numa época em que a China se torna um dos maiores países em desenvolvimento econômico no mundo, às vesperas de sediar os Jogos Olímpicos de 2008, não é nada estranho uma atitude de embate do império capitalista. A meu ver, ao contrário, revela que tudo tem um preço para o governo americano. Não importa se é uma guerra forjada, como aconteceu com o Iraque para a conquista de petróleo, ou se é uma manobra política em favor da paz, apenas para frear o ímpeto do crescimento chinês. No fim das contas, o que manda na mente de quem controla o mundo é a capacidade de manter tudo sob o seu domínio. E para isso vale investir milhões em grandes aspirações do homem contemporâneo, como a corrida espacial. Além dos 16 bilhões médios anuais, gasto com projetos espaciais, o órgão responsável pela aviação norte-americana – a FAA, Federal Aviation Administration – já prevê a chegada do turismo espacial. Uma nave, a SpaceShipOne da Virgin Galatic (www.virgingalactic.com), espera colocar os primeiros passageiros no espaço em 2009, ao preço de 200 mil dólares por cabeça. Incrível, não? Imagine se todo este dinheiro fosse usado para acabar com a pobreza mundial? Como seria a nossa evolução? Mas não é assim que eles pensam e, para mim, esta gigantesca supremacia é nada mais que ilusão. Pois o verdadeiro espaço a ser conquistado daqui pra frente não é galático nem interplanetário. Não envolve tecnologia de última geração. Não precisa de alto custo financeiro. E não é possível se chegar com naves espaciais. Na verdade, o espaço que a humanidade precisa descobrir já foi conquistado pelo próprio Dalai Lama e os monges budistas que hoje estão em todos os continentes. É um espaço de muita força e luz que consegue distanciar a guerra da paz dentro da nossa mente, colocando o espírito de combate, tão valorizado pela sociedade americana, mais longe do que a terra está do sol. Para desvendar este grande espaço não é preciso dinheiro, não é preciso opressão, não é preciso violência, não é preciso nada que esteja fora de você. Mas é preciso batalhar dentro de si mesmo para conquistar tolerância, paciência e compaixão nas horas mais difíceis e corriqueiras da vida, como as discussões familiares, as brigas no trânsito ou os momentos de tensão e rivalidade no ambiente de trabalho. Infelizmente, muitos líderes mundiais, que aplicam verbas astronômicas na guerra e na descoberta do espaço sideral, não descobriram que a conquista da mente traz mais progresso para os seres humanos. Mas você, que não precisa se preocupar com o controle planetário, pode começar a sua corrida espacial. Controle sua mente com a determinação de um guerreiro e vai conquistar o território mais almejado pelos homens: a paz. 

©Texto publicado no jornal Grande SP em novembro de 2007.

◊Recortes do jornal americano USA Today de outubro de 2007.