Silêncio

As redes sociais mataram esse blog. Ou melhor, mataram meu apetite por escrever no blog. Você entra lá e nada mais precisa ser dito. Tá todo mundo dizendo alguma coisa sobre tudo e outros tantos replicam ferozmente sobre outros tantras. Dessa forma, então, iniciei lentamente meu processo de silêncio, de voz desativa. No próximo dia 25 fará um ano que não respondi ao comentário da Jess: “ricardo, curto mt a banda o rappa e concordo demais com seu jeito de pensar… volta a ativa aí, brother! paz!”. O convite foi inspirador, mas só agora deu aquela vontade de dizer algo em resposta. Certa vez afirmei em algum post por aqui, que o que escrevia seria para ser lido em algum momento, por alguém, no seu “tempo”. Hoje, continua esse o sentido, mesmo que nem aconteça. Blogs serão dinossauros, tesouros enterrados nas profundezas do digital e pode ser que este texto não tenha nunca um leitor. Não importa. O que tenho para registrar não precisa de mídia. Nem precisa ser apreciado ou comentado. É apenas um esboço de uma verdade não revelada para a maioria dos seres. E mesmo sendo assim, tão precioso, não há tantos leitores no mundo que o queiram ler ou saber. Ah, quer saber?! Acho que prefiro novamente o silêncio. Sim, o silêncio. Porque ele é o único capaz de responder a essa verdade que se opõe a frenética-atitude-obsessiva-de-ser-digitalmente-social-a-todo-instante. Um dia o mundo virtual será mais onipresente e real do que a presença física. Nessa época, talvez não exista mais o silêncio que este blog nos traz. E quem sabe, então, venha surgir o motivo pra esse texto existir.

©Possam todos os seres se beneficiar.

Vazio é Existência

É difícil compreendermos o significado da existência. Se olhamos ao nosso redor e simplesmente avaliarmos toda a matéria que nos cerca e nos compõe, acreditamos que essa solidez é tão certa quanto a concepção do eu, que escolhe, aprova, recusa e decide. E desta forma, tomamos por correta a célebre frase de Descartes: “Penso, logo existo.” (em latim: Cogito, ergo sum). Porém, Descartes faleceu em 1650, logo já não existe mais. E esse teorema ficaria muito interessante se o fizéssemos da seguinte maneira: “Penso, logo existo. Morro, logo não existo.” Em outras palavras, a existência é uma situação condicionada. Ou seja, a existência é interdependente, há sempre uma causa ou condição que a mantém. Você nasceu porque sua mãe o guardou no útero, o amamentou, cuidou e etc. Além disso, se você não se alimentar direito também deixará de existir, como muitas outras condições necessárias para manter sua vida. Mas quando tudo parece sólido na vida condicionada, de repente, surge aquela sensação estranha. Um “vazio da existência”. E nesta hora, precisamos descobrir uma verdade. Uma sabedoria que nos tranquliza sobre este sentimento. Precisamos descobrir que tudo no universo é formado de vazio. Não um vazio que não é nada. Mas um vazio que é um grande espaço onde tudo se reúne para formar novas existências. É por isso que nascemos e morremos. É por isso que tudo se transforma na natureza. Por que há espaço. Como num desenho de pontilhismo. Esta é a base da criação.

®Que todos os seres possam se beneficiar.

Inimigo Meu

Em meados da década de 80 foi lançado um filme que correu na contra-mão do épico Star Wars. Inimigo Meu (Enemy Mine, 1985) conta a história de uma batalha entre humanos e extraterrestres do planeta Dracon – em grego significa excessivamente rigoroso. Durante a luta espacial acontece um acidente e tanto o piloto terráqueo como o alienígena caem em um planeta inóspito. O encontro dos inimigos dá o tom da epopéia. Inicialmente, tentam se aniquilar com uma ira que brota da recente disputa. Mas com o tempo percebem que precisam se ajudar para sobreviverem às hostilidades naturais do planeta desconhecido. Com este espírito, ontem tive um insight: escrever uma mensagem para meus inimigos, sejam eles quais forem. E aí vai… “Temos um carma em comum; olhamos para o outro, ignorando que temos a mesma essência e as mesmas dificuldades, não toleramos um mísero olhar estranho, não aceitamos a menor expressão de recusa, não ouvimos com cuidado, nem mesmo as palavras de compaixão. Somos da mesma natureza, feitos da mesma matéria, mas depositamos nosso lixo no território do outro, sem notar que o espaço é comum aos dois. Temos uma só mente que rege o destino, mas achamos que o destino é que rege as nossas mentes individuais. E o mais importante de tudo, vivemos, envelhecemos, adoecemos e morremos da mesma forma, sem notar que tudo pode ser mais consciente. Inimigo meu, inimigo eu. Desejo do fundo do coração que aceite esta mensagem, mesmo que já não seja eu um inimigo seu.”

©Que todos os seres possam se beneficiar.

O espaço entre a guerra e a paz

Acordei cedo, como era de costume na viagem de férias que fazia nos EUA. Abri a porta do quarto do hotel e peguei o jornal USA Today, como já me habituava fazer naqueles dias. Na capa, uma surpresa esperada. A foto do Presidente Bush ao lado do Dalai Lama anunciava a entrega da medalha de honra do congresso americano ao líder Tibetano. Dentro do jornal, muita informação a respeito deste grande evento. A nação mais militar do planeta oferecia um reconhecimento ao maior defensor da paz mundial. Em pauta, além da condecoração, um pedido para que a China pudesse abrir diálogo com os monges budistas tibetanos e sua principal liderança, S. S. o Dalai Lama. A atitude é louvável, o momento discutível. Afinal, a invasão comunista chinesa data de 1951 e o líder do Tibet vive no exílio desde 1959, na Índia. Mas numa época em que a China se torna um dos maiores países em desenvolvimento econômico no mundo, às vesperas de sediar os Jogos Olímpicos de 2008, não é nada estranho uma atitude de embate do império capitalista. A meu ver, ao contrário, revela que tudo tem um preço para o governo americano. Não importa se é uma guerra forjada, como aconteceu com o Iraque para a conquista de petróleo, ou se é uma manobra política em favor da paz, apenas para frear o ímpeto do crescimento chinês. No fim das contas, o que manda na mente de quem controla o mundo é a capacidade de manter tudo sob o seu domínio. E para isso vale investir milhões em grandes aspirações do homem contemporâneo, como a corrida espacial. Além dos 16 bilhões médios anuais, gasto com projetos espaciais, o órgão responsável pela aviação norte-americana – a FAA, Federal Aviation Administration – já prevê a chegada do turismo espacial. Uma nave, a SpaceShipOne da Virgin Galatic (www.virgingalactic.com), espera colocar os primeiros passageiros no espaço em 2009, ao preço de 200 mil dólares por cabeça. Incrível, não? Imagine se todo este dinheiro fosse usado para acabar com a pobreza mundial? Como seria a nossa evolução? Mas não é assim que eles pensam e, para mim, esta gigantesca supremacia é nada mais que ilusão. Pois o verdadeiro espaço a ser conquistado daqui pra frente não é galático nem interplanetário. Não envolve tecnologia de última geração. Não precisa de alto custo financeiro. E não é possível se chegar com naves espaciais. Na verdade, o espaço que a humanidade precisa descobrir já foi conquistado pelo próprio Dalai Lama e os monges budistas que hoje estão em todos os continentes. É um espaço de muita força e luz que consegue distanciar a guerra da paz dentro da nossa mente, colocando o espírito de combate, tão valorizado pela sociedade americana, mais longe do que a terra está do sol. Para desvendar este grande espaço não é preciso dinheiro, não é preciso opressão, não é preciso violência, não é preciso nada que esteja fora de você. Mas é preciso batalhar dentro de si mesmo para conquistar tolerância, paciência e compaixão nas horas mais difíceis e corriqueiras da vida, como as discussões familiares, as brigas no trânsito ou os momentos de tensão e rivalidade no ambiente de trabalho. Infelizmente, muitos líderes mundiais, que aplicam verbas astronômicas na guerra e na descoberta do espaço sideral, não descobriram que a conquista da mente traz mais progresso para os seres humanos. Mas você, que não precisa se preocupar com o controle planetário, pode começar a sua corrida espacial. Controle sua mente com a determinação de um guerreiro e vai conquistar o território mais almejado pelos homens: a paz. 

©Texto publicado no jornal Grande SP em novembro de 2007.

◊Recortes do jornal americano USA Today de outubro de 2007.