Estações

Do instante inerte ao movimento sem fim, acreditamos cegamente na capacidade de ser alguma coisa nestas vidas que acontecem sem o nosso consentimento. Não pedi para nascer, mas nasci. Não desejo morrer, mas sei meu destino. Pobre é aquele que vaga por esta estrada sem achar este tesouro de certeza. Fortuna, não é preciso. Ela se esgota e se transfere com a mesma rapidez dos caixas automáticos. Sofrer, também não basta. A vida passa ligeira. É passageira. E mesmo se olharmos pelas janelas do conhecimento, não poderemos ver se há trilho ou não. Apenas caminhamos, parando nas estações. Do frio ao calor, das folhas ao cair. Do instante inerte ao movimento sem fim.

®Olhando para fora do trem, numa tarde cinza no Céu.

Para quem quiser ouvir

Nos tornamos o tempo que passamos. Se ordinário, ordinário ficamos. Se medíocre, medíocre pensamos. Uma espécie de calabouço construímos e nos aprisionamos a um padrão de estupidez com grilhões que só se rompem com paciência e atenção. A questão não é força de vontade, mas garras de hábitos que são formadas sem intenção qualquer. Apenas a atração pelo conhecido, pela repetição sem motivo é o que surge, do nada. Vencê-la, após vidas de sofrimento e ignorância é uma tarefa árdua que resulta em uma serenidade límpida que não responde nenhuma questão. Mas afaga o desejo insano de dar sentido ao inexplicável. Realizar isto é calar perante a fala inexpressiva. De um território que não é inexplorável.

®Não há registro para o que se cria sem querer algo em troca. Esse texto é “inregistrável”.